Para alguns pais ou responsáveis, o corpo das crianças, mais especificamente suas partes íntimas, é um assunto difícil de abordar. É fácil ensinar onde estão cabeça, ombro, joelho e pé – joelho e pé! Pinto, piu-piu e outros nomes nós até ouvimos cotidianamente, mas vulva ou pepeca é tratada como tabu por muitos. Se não conhecermos direito o nosso corpo, como poderemos cuidá-lo e protegê-lo? Olha só como é importante: crianças que têm educação sexual na família e na escola estão menos vulneráveis à violência sexual infantil.
Conheça dois monstrinhos que querem falar com as crianças sobre violência sexual
Pipo e Fifi – prevenção de violência sexual para crianças, de autoria da Caroline Arcari, é uma ferramenta de proteção que explica às crianças a partir de 4 anos conceitos básicos sobre corpo, sentimentos e emoções. De forma simples e descomplicada, ensina a diferenciar toques de amor e toques abusivos, apontando caminhos para o diálogo, proteção e ajuda.
O texto é todo rimado, o que torna a leitura mais atrativa e lúdica. As ilustrações fofas da Isabela Santos deixam bem mais claro às crianças os “toques do sim e do não”.
Pra bebê aprender e cego ver
Ah… tem Pipo e Fifi para bebês! É possível e necessário falar com os “pititicos” também. Afinal, de acordo com dados do Ministério da Saúde de 2011, 22% das notificações de violência sexual contra crianças referem-se aos menores de 1 ano de idade. Você sabia que crianças com deficiência têm 3 vezes mais chances de sofrerem violência sexual? Por esse motivo, surgiu o projeto Pipo e Fifi na ponta dos dedos, para atender crianças com deficiência visuais.
Além da obra
O projeto vai além do livro e não tem como não admirar esse trabalho! O site Pipo e Fifi traz várias informações de proteção: explica o que é a violência sexual, como identificar se uma criança está sendo abusada, o perfil mais comum de abusador e o que fazer quando se deparar com um caso. Também oferece cursos preparatórios online, atividades para fazer com as crianças. Ah, a Caroline também trabalha com capacitação de profissionais e dá palestras sobre educação sexual.
Assista ao vídeo que fiz sobre o livro…
Dia 18 de maio é o dia nacional de combate a exploração infantil, por isso teve um episódio Fafá conta: Pipo e Fifi – prevenção de violência sexual para crianças:
… e conheça mais sobre esta obra premiada e outros canais de ajuda!
A importância do livro no debate sobre prevenção à violência sexual infantil rendeu premiações de duas organizações de defesa dos direitos da criança e do adolescente: Fundação Abrinq e Save the Children. Ahhh, melhor do que eu ficar aqui falando sobre o livro e esse lindo projeto é vocês conhecerem mais no próprio site Pipo e Fifi e no site da Caroline Arcari.
- Disque 100: serviço de proteção de crianças e adolescentes com foco em violência sexual, vinculado ao Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, da SPDCA/SDH. Basta discar o número 100 (é gratuito);
- Proteja Brasil: Esta iniciativa do UNICEF permite que sejam feitas denúncias diretamente por um aplicativo disponível para android e IOS, além de localizar os órgãos de proteção nas principais capitais e ainda se informar sobre as diferentes violações. As denúncias são encaminhadas diretamente para o Disque 100.
Compre aqui:
Conheça também o livro Não me toca, seu boboca!
Você também pode se interessar por esses livros:
Dica de profissional
A Caroline Arcari, fez um post no facebook dela que pedi para compartilhar aqui com vocês, aí vai:
*A Caroline Arcari é a autora do livro Pipo e Fifi, pedagoga e educadora sexual, especialista em Educação Sexual pelo CESEX e mestre em Educação Sexual pela UNESP.
Tem muita gente me pedindo um parecer sobre os novos livros sobre violência sexual que estão saindo no mercado editorial.
É uma grande alegria o despertar das pessoas para a necessidade de falarmos sobre esse assunto com as crianças. Para que elas criem ferramentas para detectar a diferença entre toques de afeto e toques abusivos.
A autoproteção, como é chamada essa abordagem, é uma das formas mais eficazes de enfrentamento da violência sexual, sabia? Então, aí vão as orientações na escolha do livro:
- Tem livro incrível e tem livro com conteúdo duvidoso. Cabe à família e educadoras/es prestar atenção na qualidade do texto e ilustrações.
- Alguns livros, apesar da boa intenção, acabam reproduzindo estereótipos que se afastam da realidade. Abusadores com cara de malvado, pegando a criança à força, com aparência assustadora e ameaçadora. A maioria dos autores da violência são gentis, amáveis e conhecidos da criança e isso PRECISA ser dito a ela.
- Alguns livros tratam a violência de forma muito subjetiva. Termos como “toques estranhos”, “carinhos esquisitos” são muito confusos. Quanto mais nova a criança, mais assertiva precisa ser a linguagem. Selecione livros que informem sobre partes íntimas, que revelem como são esses toques abusivos e que abordem questões como segredo e busca de ajuda.
- Prefira livros cujos personagens contemplem ambos os gêneros. Livros que mostram apenas meninas sofrendo abuso sexual podem reproduzir o mito de que meninos raramente são vítimas. Sabemos que, estatisticamente, até 27% dos meninos e 36% das meninas sofrem algum tipo de violência sexual até os 12 anos de idade.
No mais, é incrível ter variedade de materiais e obras sobre essa temática. Pra quem está na área da prevenção, sabe o quanto lutamos diariamente para que essa temática encontre espaços na escola, nas famílias e em outros contextos educativos. Aqui estão livros e materiais que eu adoro, além dos meus filhotes Pipo e Fifi:
Projeto do Conselho Europeu: Aqui ninguém toca
Livro O segredo de Tartanina