Como bem canta Palavra Cantada, numa música em parceria de Paulo Tatit com Arnaldo Antunes, “criança não trabalha, criança dá trabalho”. Pensando nisso, vim aqui compartilhar uns livros infantis que abordam o tema.

O Sonho de Lu Shzu

A história começa com uma situação comum. O aniversário de uma menina, a narradora nesse primeiro momento, que “sempre ganha presentes”. As ilustrações comentam e questionam, por meio de vozes que os brinquedos adquirem, paralelamente, esse “sempre” anterior, dizendo que eles [brinquedos] são rapidamente esquecidos e postos de lado. Isso até a voz narrativa se deslocar efetivamente para um brinquedo desprezado, uma boneca, que uma menina chama de feia. Começa, então, a verdadeira história contada por essa boneca feia de uma menina chinesa que é uma uma trabalhadora de uma fábrica de brinquedos. A vida de Lu Shzu acontece dentro da rotina fabril. Pontuada pelas ilustrações que, de maneira engenhosa, espalham números, tabelas, cronogramas, entre outros detalhes que intensificam esse cotidiano de exploração. Isso até Lu Shzu ter um sonho dentro desse contexto não muito favorável a ele.

De Ricardo Gómez e Tesa González. Publicado pela MOV Palavras.

Carvoeirinhos

“A casa do menino não é uma só. […] É uma casa onde se põe lenha pra lenha pegar fogo e depois virar carvão. A casa do menino não é dele, não foi ele quem fez. É a casa do fogo.” De forma poética e original, a história do menino carvoeiro é narrada por um inusitado narrador: um marimbondo. Ao mesmo tempo que vai relatando a suas próprias experiências, ele observa o cotidiano do menino: o árduo trabalho de fazer os fornos, as conversas com outro menino, a necessidade de escapar dos fiscais. As expressivas ilustrações do autor captam com sensibilidade e força a vida dura e cinzenta desses pequenos trabalhadores.

De Roger Mello, ganhador do prêmio Hans Christian Andersen, tipo o prêmio Nobel da literatura infantil. Publicado pela Companhia das Letrinhas.

Acompanhando meu pincel

Acompanhando meu pincel é a história de Dulari Devi. Empregada doméstica que se tornou artista do estilo Mithila de arte popular da região de Bihar, no leste da Índia. Dulari pertence a uma comunidade de pescadores, acostumada a uma vida de trabalho árduo e inexorável. Ela conta de maneira comovente como descobriu e passou a exercer sua criatividade quando trabalhava como faxineira na casa de uma artista. Além da trajetória pessoal de uma artista, este livro traz nas entrelinhas o retrato de um país de grande diversidade social, que procura preservar sua riqueza cultural.

De Dulari Devi, publicado pela WMF Martins Fontes.

Trabalho de criança não é brincadeira, não.

Uma obra que denuncia um grave problema de nosso país ― o trabalho infantil. O livro nos convida a refletir sobre o verdadeiro sentido do trabalho na infância. A criança pode descobrir o valor da cooperação e a alegria de concluir tarefas cotidianas para auxiliar a família e os amigos. Uma leitura que traz o aprendizado do cuidar e, ao mesmo tempo, denuncia que os limites das práticas abusivas é compromisso de toda nação.

De Rossana Ramos e Priscila Sanson, publicado pela Cortez.

Pra ouvir a música

Vale lembrar:

O que é uma criança

Direitos das crianças