Com o dia do índio chegando eu fiz uma pesquisa no facebook e instagram pedindo dicas de lendas pra eu contar no canal. Apareceram várias sugestões pra contar as nossas velhas conhecidas “Iara”, “Vitória Régia”, “Mandioca”e por aí vai…

O mais legal – e importante – foi que surgiram sugestões que me fizeram abrir a cabeça sobre o tema! A Natália, do projeto Omama, comentou: “são sempre as ditas ‘folclóricas’ que não são especificamente de uma etnia. Como estudo muito isso, AMO a do surgimento do povo karaja, criação da chuva dos pataxó e a lenda dos xapiri – yanomami”.

A Patrícia Rameiro indicou o autor Daniel Munduruku, que eu não conhecia e adorei conhecer. A Carolina Scheidecker, que está colaborando na criação de um roteiro falando sobre povos indígenas (em breve no canal) sugeriu mais vários! Tudo isso fez com que eu saísse da minha zona de conforto e decidisse me aprofundar mais no tema.

Não podemos pensar em “índio” e colocá-los todos na mesma caixinha. Hoje existem no Brasil mais de 250 povos indígenas! Com tradições, culturas, línguas diferentes. É uma diversidade cultural muito grande pra gente ignorar (e a grande maioria vem ignorando, eu inclusa, mas não mais!!!).

Agora que me abriram os olhos pra isso, não poderia mais cair na cilada de contar alguma lenda folclórica, como bem disse e alertou a Natália, que citei lá em cima. É preciso contar novas histórias, de autores indígenas, de povos específicos, pra que a gente valorize a pluralidade que existe e é tão rica!

Imbuída de tudo isso, fui correndo à Biblioteca Pública do Paraná, um dos meus refúgios quando quero pesquisar boas histórias. Selecionei 6 livros do acervo deles (era o máximo que eu podia emprestar juntando a minha carteirinha e a da minha sobrinha, valeu Liz!), mais um que tinha no meu acervo e mais dois que chegaram no caminho. Não fechou a conta de 7, né? Pois leia até o fim pra entender.

Bora conhecer?

Catando piolhos contando histórias

Autor: Daniel Munduruku
lustrações: Maté
Editora: Brinque-book

Uma feliz descoberta foi a obra do autor Daniel Munduruku, uma referência na literatura indígena voltada ao público infantil. O Daniel é paraense, índio da nação Munduruku. Mora em São Paulo e é formado em filosofia. (não vou contar muito mais pra gente não sair do foco, mas é uma pessoa que vale muito a pesquisa, chama o google aí).

Ele escreve de um jeito gostoso de ler! Contando histórias que viveu faz a gente se sentir vivendo tudo aquilo junto com ele. Leitura das boas!

A história do monstro Khátpy, um dia na aldeia Kisêdjê

Adaptação: Ana Carvalho
Ilustrações: Mariana Zanetti
Editora: Cosac Naify

Esse livro faz parte de uma coleção chamada “Um dia na aldeia”. Um projeto da Cosac Naify em parceria com o Vídeo nas Aldeias. É muito bacana esse projeto! Cada título conta os costumes atuais e antigos de um povo indígena no Brasil. Além disso, traz o texto em português e na língua indígena do povo retratado <3 adorei isso!

Essa história, em específico traz um conto dos kisêdjê. Um índio que caça macacos encontra um monstro que caça índios!! O monstro usa da força e o índio a esperteza. As páginas são bem coloridas, com ilustrações muito lindas retratando a riqueza da fauna, cheia de texturas. Depois da leitura é correr pro YouTube assistir essa história retratada pelos próprios kisêdjê e a experiência se completa. Demais, né?

Txopai e Itôhã

História contada por Apinhaera Pataxó
Escrita e ilustrada por Kanátyo Pataxó
Editora: Formato

Essa história havia sido contada pela Apinhaera Pataxó, também conhecida como Sijanete Alves dos Santos, uma das mulheres que mais conhecem as histórias da aldeia. O Katnátyo Pataxó escreveu uma versão dela, ilustrou e virou esse livro.

Um mito de origem, Txopai é o primeiro índio Pataxó a surgir na Terra. Nasceu de uma gota de chuva e, com a sabedoria de quem nasceu primeiro, vai ensinar seus irmãos que surgiram bem depois, de outra chuva, a caçar, pescar, plantar, enfim, a sobreviver do trabalho, respeitando os recursos naturais.

Contei essa história no canal, assista!

A pescaria do curumim e outros poemas indígenas

Autor: Tiago Hakiy
Ilustrações: Taísa Borges
Editora: Panda Books

O Tiago é descendente do povo sateré mawé, nasceu no coração da floresta amazônica e é formado em biblioteconomia pela UFAM. Esse livro é pura poesia! Traz vários poemas com rimas deliciosas de ler em voz alta, falando sobre a fauna e flora da região amazônica, os costumes do seu povo e a interação com a natureza. As ilustrações são belíssimas, ricamente coloridas e com muitas texturas é também poesia pros olhos.

Histórias que eu ouvi e gosto de contar

Autor: Daniel Munduruku
lustrações: Rosinha Campos
Editora: Callis

Mais uma vez Daniel Munduruku contando histórias de um jeito gostoso de ler! Como diz o título, histórias ouvidas por ele, contadas por outras pessoas e que o autor divide com a gente. Ele fala sobre a cultura, os conhecimentos e as experiências de nações indígenas em histórias como a da Matinta Perera e a do Boto Tucuxi.

Memória das palavras indígenas

Autor: Luís Donisete Benzi  Grupioni
Ilustrações: Walther Moreira Santos
Editora: Global

Esse livro é quase como um dicionário de palavras indígenas que usamos no nosso dia a dia. Pra gente descobrir que muito do nosso vocabulário relacionado à fauna, à flora, a lugares e alimentos foi aprendido com os indígenas. Além disso ainda lista quais são os povos existentes aqui no Brasil e traz várias curiosidades e informações interessantes. Bem legal pra consultar e aprender!

Andurá

Autor: Lucas Benetti
Ilustrações: Carol Borges
Editora: Selo Off FLIP

Uma história super emocionante que traz o relato da chegada dos colonizadores pelos olhos de uma árvore, a Andurá. Ela é uma árvore mitológica que tem o poder de controlar o fogo e passa por um processo de autoconhecimento enquanto protege a floresta dos invasores brancos. Fiquei super envolvida na trama enquanto lia. Esse livro foi vencedor do Prêmio Off Flip de Literatura (categoria infantojuvenil).

Nos 45 minuto do segundo tempo…

Vocês não vão acreditar, mas é uma sexta-feira, 19h e eu estou terminando esse post, que era pra ter entrado ontem. Queria ter preparado vocês pra história que entrou hoje no canal.

Pois bem, enquanto estava na metade desse texto o porteiro interfonou “Flávia, chegou um envelope aqui na portaria, posso te entregar?”. Eram esses dois livros que o pessoal da editora Edelbra me enviou. Eles viram no instagram que eu estava pesquisando lendas indígenas (falei no início do post, lembra?) e me mandaram essas duas obras especialmente selecionadas pra mim (e pra vocês, claro!). Veio junto com uma cartinha, cheia de carinho, escrita à mão, repito: À MÃO! <3 muito amor.

São dois livros de quem?? Daniel Munduruku, lógico! Não deu tempo de ler ainda, é claro… mas né, sendo do autor que é, vindo de uma editora que mandou com tanto afeto… quis colocar aqui pra vocês.

“Foi vovó que disse” e “Karu Taru”.

Atualização:

Foi vovó que disse

Autor: Daniel Munduruku
Ilustrações: Graça Lima
Editora: Edelbra

“Lá eles chamam a gente de índio. Vovó disse que eu não sou índio, que eu sou Munduruku e que tenho que ter orgulho.”

Um livro muito bonito pra ajudar nesse trabalho de valorização dos povos indígenas. Pra falar sobre respeito às diferenças, respeito à natureza e pra conhecer um pouco mais sobre as pessoas que já estavam aqui nessa terra bem antes dos colonizadores chegarem.

Compre os livros

Comprando pelos links que disponibilizo aqui você colabora pra continuidade do meu trabalho sem gastar nada a mais por isso! 🙂 Obrigada.

Fique mais um pouco… assista uma história!

Fafá conta: txopai e itôhã

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